Encontro aconteceu na Ʉhtã Bo’ó Wi’í, casa tradicional de iniciativa de Bu’ú Kennedy em São Gabriel da Cachoeira, e marcou um momento muito importante na vida de todos os participantes.
Foto de Lucas Derobertis. Participantes do retiro em frente a Ʉhtã Bo’ó Wi’í
No de 2024, Bu’ú Kennedy se emocionou muito positivamente e sentiu grande alegria ao celebrar seu aniversário ao lado de familiares, amigos e alunos dentro da Ʉhtã Bo’ó Wi’í (Casa de Quartzo Branco), no município onde nasceu: São Gabriel da Cachoeira – AM. Bu’ú sonhou e idealizou por muitos anos a construção de uma Casa de práticas e fortalecimento da cultura e tradição de seu povo, o Povo Yepá Mahsã e, neste ano, após muito trabalho e foco, a semente plantada frutificou. A Ʉhtã Bo’ó Wi’í fica no Sítio Ʉhtã Peri Pa’á, é uma idealização de Bu’ú Kennedy e sua realização é uma iniciativa de seu clã Ʉremirĩ Sararó e do clã Erëmiri Hãusiro Parameri. A Ʉhtã Bo’ó Wi’í é ligada ao início das casas de práticas milenares, ela representa símbolos da semente da origem do povo Yepá Mahsã, por isso a celebração deste aniversário de Bu’ú foi tão especial para ele.
A Ʉhtã Bo’ó Wi’í ainda não está formalmente aberta ao público, a data da inaguração oficial ainda está sendo definida. O retiro de seu aniversário, que aconteceu de 5 a 10 de junho deste ano, foi uma grande celebração inicial desta materialização e também uma forma de sentir como está a estrutura do espaço para receber grupos, assim como são os projetos futuros. Durante estes dias de retiro mais de 60 pessoas estiveram presentes entre familiares, mestres e mestras indígenas convidadas, amigos, alunos(as) de Bu’ú e equipe, foram dias fantásticos e irrepetíveis!
Foto de Lucas Derobertis. Amigos e familiares escutando discurso de Bu’ú Kennedy
Além dos familiares e amigos da região do Alto Rio Negro e estado do Amazonas, pessoas de outros estados como Bahia, Goiás, São Paulo, Brasília, Alagoas e Belém também estiveram presentes para celebrar e estudar neste grande momento. A organização para o retiro começou na estruturação da comunicação para que todos soubessem como se preparar e o que levar para a viagem, já que muitos nunca haviam tido uma experiência como essa na floresta.
Os participantes do retiro foram recebidos em São Gabriel da Cachoeira – AM e viajaram de 15 a 20 minutos de voadeira até o Sítio. Chegando lá, todos montaram suas redes dentro dos espaços indicados na casa, com divisão de áreas entre homens e mulheres. E para quem está curioso com a experiência: a maioria dos depoimentos de quem dormiu estes dias na rede por lá foram de alegria e conforto!
A alimentação (café da manhã, almoço e jantar) também fazia parte do pacote do retiro e era feita pela equipe, sempre dentro das indicações milenares de alimentação do Povo Tukano para quem está em estudo com ayahuasca e demais medicinas. Aqui você pode ler mais sobre essa dieta específica de altíssima importância durante essas práticas e estudos espirituais.
Foto de Juliana Valbert. Apresentação dos Bayas durante a cerimônia
Durante o retiro, os participantes tiveram a oportunidade de aprender um pouco mais com Bu’ú, também com seu pai Kumu (curandeiro) Sr Cláudio Barreto, com Dona Helena do povo Piratapuya, única mulher onça, com Dona Mariquinha e seu irmão, do povo Baniwa, uma grande mestra de ervas, Sr Lino Tukano Kumu (curandeiro), além da oportunidade de estarem na presença de um Bayá como Álvaro Tukano e Mário Tukano (mestres de canto e dança cerimoniais), Guigós do povo Tukano (mulheres sábias), a presença de Daiara Tukano, e demais anciãos e anciãs, e também de conhecerem brevemente um pouco da cultura Yanomami através de um de seus líderes que esteve presente com sua família.
Os participantes do retiro que optaram por fazer a oficina de tambores com o casal amigo e convidados de Bu’ú: Valéria Mendes e Tiago Augusto, também vivenciaram grande experiência de aprendizado sobre o tambor e tiveram seus tambores benzidos por Bu’ú ao final da cerimônia de seu aniversário que durou 16 horas.
O saldo desta experiência estava estampado nos rostos das pessoas: o Amazonas e a cultura do povo Tukano e demais povos presentes da região são realmente muito preciosos e tem muito a contribuir para uma humanidade mais internamente equilibrada e feliz! Afinal, é dentro de cada um que o trabalho começa.
Foto de Alonso. Participantes preparando caxiri
Os participantes adoraram a comida e se impressionaram com o fato de uma gastronomia simples ser tão múltipla, saborosa, natural e rica! Quinhapira de peixes deliciosos, a multiplicidade da macaxeira (conhecida também como mandioca ou aipim), o açaí, a farinha de tapioca, o xibé, o beiju, o mingau de banana, o ingá, a pimenta, as famosas formigas maniuaras e muitas outras delícias.
Em breve esta casa estará recebendo grupos para visitação, mas ela é, antes de mais nada, um espaço de memória e transformação do Povo Tukano.
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